12.5.05

12 de Maio

Não há dia no ano que me marque mais do que este.
Posso vir a ter outros filhos, como espero, mas o primeiro é sempre o que marca mais.
Pela novidade das emoções e das acções, pela inexperiência, pela descoberta de nós próprios e do ser que trouxémos ao mundo, por uma parafernália de vivências que só quem tem filhos sabe reconhecer.
Várias são as vezes em que me questiono se serás feliz (e lá estou eu com os olhos a encherem-se de lágrimas...).
A vida não me permitiu construir o lar que sonhei para ti. Talvez não me tenha esforçado o suficiente mas há alturas na vida em que a força nos abandona e em que, por mais que amemos os nossos filhos e queiramos o melhor para eles, concluímos que manter um lar falso não é solução.
Estou hoje plenamente convencida que o futuro nos quer sorrir e vamos conseguir construir um verdadeiro lar, como se de uma só família fizéssemos parte.
Sei que a única coisa que para ti é importante é que a Mãe seja Feliz, independentemente de gostares ou não de quem está com ela.
Não há crianças fáceis e tu, seguramente, não serás das mais dificeis mas também não serás das mais controladas. És teimoso e obstinado e chegas a roçar as raias da desobediência mais do que seria admissível mas és também uma criança doce, de uma meiguice impressionante, ávida de afecto e extremamente sensível.
O mundo em que vives é muito próprio e, até hoje, não permitiste que alguém (nem mesmo eu) nele entrasse. Só deixas que vejam aquilo que permites que saia cá para fora e isso torna a nossa compreensão de ti bastante díficil.
De tão sensível que és ao mundo exterior, tornas-te vulnerável e um alvo fácil para a crueldade das outras crianças. Sofres por seres assim tão sensível, tão atrito a formas violentas de reagir mas não abres mão da tua forma de reagir perante as situações. Ainda não aprendeste a dosear o que dás de ti aos outros e não sei se algum dia irás aprender. O exemplo que tens de mim não é, de todo, o melhor e parece-me que de nada irá adiantar a minha constante insistência em criar em ti uma carapaça que te ajude a defenderes-te do exterior. A tua Humanidade ultrapassará todos os estímulos exteriores que tiveres.
A tua Arte escondida revelar-se-á um dia e aí seremos todos capazes de entender o teu mundo, que para a maioria das pessoas é imaginário, mas que ambos sabemos é a tua realidade e que não abrirás mão dela.
Para mim, és a primeira maravilha do Mundo e jamais te obrigarei a seres o que não queres ser.
Sim, meu Amor, eu sei que és Feliz porque para ti basta um carinho, um alento ou um incentivo para que nada mais importe!